A produtividade do descanso

Como a ideia de “ócio produtivo” pode criar profissionais mais criativos e focados

O trabalhador moderno já incorporou o culto ao trabalho na vida dele: não se precisa mais da figura do patrão para incentivar a produtividade, já que o próprio funcionário se motiva através do ambiente workaholic no qual a sociedade atual se envolveu. A esse fenômeno o teórico cultural Byung Chul Han deu o nome de “sociedade do cansaço”, no qual a ação constante leva seus membros à exaustão e até a adoecer. Nesse cenário, a diversão fica de lado, e qualquer forma de lazer é vista como perda de tempo útil.

Os trabalhadores, então, ao tentarem maximizar seu desempenho, acabam diminuindo-o. Nos anos 1970, foi descoberta a “Síndrome de Burnout”, diretamente ligada ao trabalho, no qual a pessoa carrega um sentimento de exaustão física e mental, que é considerado parte do quadro depressivo, por excesso de dedicação e investimento profissional. De acordo com a Previdência Social, em 2017, episódios depressivos geraram cerca de 43,3 mil afastamentos de auxílio-doença, e casos ansiosos geraram 28,9 mil afastamentos. Como ajudar esses funcionários?

O sociólogo Domenico De Masi criou o termo ócio criativo, designado para falar do equilíbrio entre trabalho e diversão que a mente precisa para poder aproveitar melhor dos dois momentos. A ideia por trás é de que o cérebro consegue se focar melhor quando passou por um período de descanso, aumentando sua produtividade e criatividade. Um cérebro cansado e atarefado não consegue absorver informações com a mesma facilidade.

E como realizar o ócio produtivo na prática? O ser humano passa boa parte do dia “fazendo nada”. E se, ao invés de sentir que desperdiçou esse tempo quando poderia estar fazendo algo “útil”, não se usasse para realizar atividades proveitosas, que vão dar um descanso ao cérebro e entreter? Ou seja, ao invés de tentar utilizar esse tempo para trabalhar mais, utilizá-lo para descansar a cabeça, fazendo atividades prazerosas para si, como cochilar, ler, ver televisão, conversar com um amigo, cozinhar etc., para, posteriormente, ser mais produtivo nas obrigações diárias. Mas cuidado! Não se deve encarar o lazer como obrigação, pois dessa forma, ele será absorvido como trabalho e não causará o efeito desejado.

O bem estar do funcionário deve ser um esforço conjunto entre o indivíduo e a empresa. Dessa forma, na prática, o ócio coletivo pode ser um aliado das empresas, que estão interessadas numa maior produtividade e satisfação de seus funcionários. É como unir o útil e o agradável ao mesmo tempo: dê uma forma de descanso para seus funcionários, e a concentração e produtividade deles será maior. Isso pode ser feito de formas simples: pausas rápidas para água e ar puro, caminhadas curtas para levantar do computador e tomar um café etc. O importante é relaxar. Essa prática já é comum em grandes empresas que têm majoritariamente funcionários jovens, como Google, Nubank etc.

Muito se fala hoje em dia sobre mudanças organizacionais nas empresas de acordo com as novidades do mercado. Para isso, se contratam agentes de mudanças responsáveis por renovar o que não se encaixa mais dentro do ambiente empresarial. É importante que esse tipo de funcionário, então, esteja atento à mentalidade do ócio produtivo nas empresas para que todos possam se beneficiar desse descanso merecido e enriquecedor, e diminuir a quantidade de patologias relacionados ao trabalho.

Fonte: https://www.mundorh.com.br/